A “guerra” do aço no mercado brasileiro

O mercado brasileiro de aço está enfrentando uma situação delicada, que envolve a concorrência desleal dos produtos importados, principalmente da China, e a pressão dos setores consumidores, que temem o aumento dos custos e dos preços. Neste contexto, o governo federal tem que equilibrar os interesses das siderúrgicas nacionais, que pedem a elevação da tarifa de importação do aço para 25%, e das indústrias que usam o aço como insumo, como a construção civil e a automotiva, que defendem uma taxa mais baixa.

O problema se agravou nos últimos meses, com a desaceleração da economia chinesa, que reduziu a demanda interna por aço e gerou um excesso de oferta no mercado mundial. A China é o maior produtor e exportador de aço do mundo, e tem sido acusada de praticar dumping, ou seja, vender o produto abaixo do custo de produção para eliminar os concorrentes. Além disso, o aço chinês conta com subsídios estatais e benefícios cambiais que aumentam sua competitividade.

Diante dessa situação, vários países adotaram medidas de proteção ao seu mercado siderúrgico, como os Estados Unidos e o México, que elevaram suas tarifas de importação para 25%. O Brasil, por sua vez, ainda não tomou uma decisão definitiva sobre o assunto, mas já reajustou as tarifas de alguns produtos de aço nos últimos meses. Em setembro de 2023, o governo antecipou o fim da redução tarifária que havia sido implantada em 2022, quando baixou em 10% o imposto de uma série de insumos industriais, incluindo o aço. Com isso, as tarifas voltaram ao patamar de 9% a 14,4%. Na semana passada, o governo recompôs a tarifa de importação de vergalhões e tubos de aço, que saíram de 10,8% para até 16%.

Essas medidas, no entanto, ainda estão aquém do que reivindica o setor siderúrgico brasileiro, que ameaça rever seus investimentos se não houver uma mudança na política comercial. Segundo o Instituto Aço Brasil (IABr), as importações de produtos siderúrgicos cresceram 22% em 2023 em relação ao ano anterior, enquanto as exportações caíram 7%. O resultado foi um déficit comercial de US$ 1 bilhão no setor. O IABr afirma que as siderúrgicas nacionais estão operando com uma capacidade ociosa de 40%, e que cerca de 30 mil empregos diretos foram perdidos desde 2020.

Por outro lado, as indústrias que consomem o aço como matéria-prima são contrárias ao aumento da tarifa de importação para 25%, pois temem que isso eleve seus custos e prejudique sua competitividade. A Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), por exemplo, criticou a elevação da tarifa dos vergalhões de aço para 12%, argumentando que isso terá impacto no preço das moradias, especialmente para a população de menor renda. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), por sua vez, disse que é parceira das siderúrgicas no desenvolvimento de produtos, mas que não pode aceitar que o aço brasileiro custe mais caro.

O governo federal diz que está analisando os pedidos de elevação do imposto de importação do aço junto à Câmara de Comércio Exterior (Camex), e que mantém um diálogo permanente com os setores envolvidos. O governo afirma que tem cuidado com o impacto que a elevação das tarifas pode ter sobre os preços e sobre a inflação. Além disso, o governo diz que está atento às questões diplomáticas envolvidas na relação comercial com a China, um dos principais parceiros comerciais do Brasil.

Assim, o mercado brasileiro de aço vive uma “guerra” entre os interesses das siderúrgicas e das indústrias consumidoras, que depende da decisão do governo sobre a tarifa de importação. Enquanto isso, a China continua a inundar o mercado mundial com seu aço excedente, colocando em risco a sobrevivência da indústria siderúrgica nacional e global.

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